Rating e Classificação de Risco: como funciona e quais são os critérios?
calendar_month 17/04/2024
Entender o que é Rating e como funciona a classificação de risco de empresas e instrumentos financeiros é fundamental para qualquer pessoa que investe.
No Talkenização 114, Decio Bapttista (Sócio Fundador da Liberum Ratings) explica o que é Rating de crédito e qual é o papel de uma agência de rating, os diferentes tipos de classificações de risco e as diferenças entre a análise de crédito feita por bancos e outras instituições financeiras.
Além disso, reflete sobre como as agências de rating estão se adaptando às mudanças nos mercados financeiros, como o aumento da digitalização e o uso de tecnologias disruptivas como a blockchain.
O que é Rating de crédito e qual é o papel de uma agência de rating?
O rating desempenha o papel crucial de avaliar a probabilidade de retorno do capital investido dentro das condições previamente estabelecidas.
Em outras palavras, o rating consiste na análise criteriosa do risco associado ao pagamento em termos de prazo e taxa acordada, oferecendo aos investidores uma estimativa da viabilidade de recuperação dos recursos aplicados.
Dentro desse contexto, as agências de classificação de crédito assumem um papel de destaque, elas são encarregadas de avaliar o risco de crédito de emissões ou emissores.
Emissões diversas, como debêntures, CRI, CRA, FIDC, notas comerciais, CCB, entre outras, são submetidas à análise minuciosa dessas agências.
A partir das informações fornecidas pelo emissor e da análise detalhada de documentos que englobam as informações financeiras da empresa, aspectos legais da estrutura e particularidades da emissão, as agências atribuem uma classificação de risco.
Para que serve o rating?
O rating é um fator importante para a tomada de decisão do investidor. Ele soma a outros fatores, como a compatibilidade entre o risco do papel da emissão e a taxa oferecida.
Nesse sentido, é comum observar uma relação inversamente proporcional entre a taxa de retorno e o rating atribuído.
Em situações onde o rating é mais baixo, espera-se uma compensação na forma de uma taxa de retorno mais elevada, refletindo o maior risco envolvido na operação.
Não raro, o investidor se depara com a decisão de não investir não apenas em virtude do risco associado, mas também devido à inadequação entre a taxa oferecida e o risco percebido.
Esta análise detalhada é essencial para garantir uma alocação de recursos eficiente e condizente com os objetivos de investimento.
Em casos onde o risco é elevado e a taxa de retorno é considerada insuficiente, os investidores podem pleitear uma oferta mais atrativa por parte do emissor, contemplando uma remuneração compatível com o risco assumido.
Embora o rating não seja o único critério a ser considerado, sua análise cuidadosa fornece aos investidores informações valiosas para a construção de uma carteira de investimentos sólida e alinhada com suas metas financeiras.
Como as agências de Rating avaliam o risco de crédito em instrumentos financeiros?
Uma das questões fundamentais para investidores é compreender como as agências de rating atribuem classificações de risco aos emissores de títulos e instrumentos financeiros.
Esse processo envolve uma análise detalhada de diversas características, e para ilustrar essa dinâmica, podemos considerar um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) como exemplo.
O ponto inicial desse processo é a análise do regulamento e do contrato de cessão do FIDC.
Esse contrato estabelece as bases operacionais e regras que guiarão o funcionamento do fundo, incluindo critérios como subordinação mínima, prazo máximo e elegibilidade dos recebíveis.
É essencialmente o acordo entre os investidores e os agentes envolvidos, delineando o funcionamento prático de todo o processo de venda e aquisição de recebíveis para o fundo.
Dentro desse contexto, a agência de rating visita o sponsor, ou seja, a empresa que vende os recebíveis para o FIDC.
Nessa etapa, são avaliadas questões como a capacidade contínua de fornecimento de recebíveis ao fundo, os riscos operacionais da empresa, a fungibilidade dos recebíveis e todo o processo de criação e transferência desses ativos.
Inclusive, a possibilidade de tokenização desses ativos pode ampliar o acesso tanto de tomadores quanto de investidores, gerando benefícios mútuos. Isso já está ficando evidente nas aplicações práticas do TIDC, por exemplo.
Outro ponto-chave é a análise das informações dos cedentes e sacados, que fornece insights sobre o perfil de pagamento de cada um.
Além disso, a capacidade de gestão e administração do fundo é minuciosamente avaliada, garantindo que o processo seja conduzido de forma eficiente e transparente.
Posteriormente, são compiladas informações regulatórias, financeiras, de fungibilidade e operacionais.
É uma abordagem holística que busca compreender não apenas os riscos de crédito, mas também os riscos relacionados à operação do fundo.
Por fim, o comitê da agência de rating se reúne, vota individualmente e chega a um consenso sobre a classificação de risco a ser atribuída. Essa nota é então divulgada conforme as regulamentações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Todo esse processo evidencia a profundidade e rigor da avaliação realizada pelas agências de rating. E desde o início até a divulgação do rating, pode levar de 15 a 22 dias, no caso da Liberium Ratings.
O que é uma classificação de risco “investment grade” e quais as principais vantagens de se obter este nível de classificação?
Este conceito, também conhecido como “baixo risco de crédito”, oferece uma série de vantagens para investidores e empresas que buscam acesso a capital com maior segurança e confiança.
Quando uma emissão de títulos ou uma empresa atinge a classificação de “investment grade”, isso indica que o risco de crédito associado é considerado muito baixo.
Essa nota é um selo de qualidade que atrai principalmente investidores públicos institucionais, os quais são particularmente sensíveis à segurança dos investimentos.
Além disso, o público em geral, especialmente com a nova normativa da CVM que permite investimentos diretos em Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), também se torna mais interessado nessas operações ou instituições.
Vale ressaltar o papel dos FIDCs nesse contexto, que podem ser uma ponte para a tokenização tanto do investimento quanto da captação de recursos.
Nos próximos anos, é esperado um crescimento significativo no mercado de FIDCs, uma vez que nos mercados dos EUA e europeu, esse tipo de investimento já movimenta trilhões, enquanto no Brasil ainda está na casa dos bilhões.
Isso abre um vasto campo de oportunidades tanto para investidores quanto para empresas, impulsionando o mercado financeiro nacional para novos patamares.
Quais são as diferenças entre as análise de crédito feita por bancos e outras instituições financeiras?
Embora ambos os processos tenham como objetivo avaliar o risco de crédito, há distinções importantes entre eles que merecem ser destacadas.
Quando um banco ou outra instituição financeira realiza uma análise de crédito, trata-se de uma avaliação interna realizada para consumo próprio.
Esse processo pode resultar em um score de crédito, que é uma medida interna utilizada para avaliar o risco de inadimplência de um cliente ou de uma operação específica.
Por outro lado, para conduzir um rating de crédito, é necessário obter autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
No Brasil, apenas seis empresas possuem essa autorização, o que evidencia a rigidez e a seriedade desse processo regulatório.
Uma das principais distinções entre o rating de crédito e a análise de crédito realizada por instituições financeiras é a sua divulgação.
Enquanto o rating de crédito é sempre público, conforme determinado pela CVM, a análise de crédito realizada por bancos e outras instituições pode ser de uso interno e não pode ser divulgada como rating.
Isso significa que apenas as instituições autorizadas pela CVM podem atribuir oficialmente um rating de crédito e torná-lo público para o mercado.
Portanto, embora ambos os processos tenham como objetivo avaliar o risco de crédito, é essencial compreender as diferenças entre eles para garantir uma tomada de decisão informada e precisa no mercado financeiro.
Como as agências de rating estão se adaptando às mudanças nos mercados financeiros, como o aumento da digitalização e o uso da blockchain?
O cenário dos mercados financeiros está em constante evolução, impulsionado pela crescente digitalização e pela adoção de tecnologias disruptivas, como a blockchain.
Nesse contexto dinâmico, as agências de rating estão se adaptando para atender às demandas e desafios dessa nova era.
É crucial compreender que, diante da transformação digital, a capacidade de processamento e compreensão do mercado de crédito tornou-se essencial.
Como afirmou Decio, “se você não tiver a capacidade de processamento e entender como vai funcionar o mercado de crédito, você vai se tornar um dinossauro”.
Nesse sentido, as agências de rating estão se ajustando e desenvolvendo novas estratégias para acompanhar o ritmo das mudanças tecnológicas.
Um dos avanços significativos está relacionado ao mercado tokenizado, onde o rating desempenha um papel crucial.
Ao atribuir uma classificação de risco, o rating reduz a assimetria de informações entre investidores e emissores, proporcionando transparência e equidade.
Essa equalização das informações coloca ambos os lados em pé de igualdade, permitindo uma avaliação mais precisa do risco e da remuneração oferecida.
Para os tomadores, essa transparência pode resultar em custos de funding mais baixos, enquanto para os investidores, oferece maior segurança e confiança na hora de investir.
É importante ressaltar que, com a disseminação da informação no mercado de capitais, todos os participantes se beneficiam.
No entanto, é necessário um esforço contínuo de educação e conscientização financeira para garantir que os investidores compreendam plenamente os riscos envolvidos em suas decisões.
Somente por meio da educação e da disseminação de informações financeiras, podemos promover uma participação mais consciente e informada nos mercados financeiros, preparando o terreno para um futuro mais sólido e resiliente.
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